O homem na mesa ao lado quer se mudar para a praia e abrir um templo de meditação budista. Lá embaixo as pessoas andam em círculos dentro da piscina.
O vinho que estou bebendo veio numa tacinha de plástico e tem gosto bom. Não é doce como aquele gaúcho daquela vez, apesar de ser vinho brasileiro. A luz se faz passar dentro dele e marca a bandeja de vermelho.
Passou por mim um cansaço e me derrubou na bancada de sentar. Desmancho. Olho para o teto falando ao telefone. Nos amamos. Tenho medo de alguém vir me dizer que não se pode deitar aqui. Meu cabelo se abriu em leque sobre o estofado.
Tenho limites e um deles é não trabalhar mais que as horas de um dia de trabalho. Ando concluindo que é muito difícil ter alguma novidade no mundo. Como somos medrosos.
E se eu escolhesse? E se eu escolhesse entrar naquela piscina de calcinha e sutiã?
Ainda não assinaram minha carteira. Estou me esforçando. E ao mesmo tempo tento provar alguma coisa. Por ser a única mulher lá, sinto que tenho que provar alguma coisa. Fico elucubrando inexistentes diálogos machistas na minha cabeça. Como eu reagiria?
A moça que se sentou ao meu lado saiu e me agradeceu. Não havia motivo, ela apenas sentou ao meu lado num local público. Obrigada. Eu também costumo agradecer por tudo.
Há uma diferença importante no trabalho novo. Não há telefone tocando.
Eu não vou entrar na piscina agora. E nem pensar demais. Porque o vinho faz sombra vermelha na base da tacinha. E a sombra sombra na bandeja.